Em 1925, o engenheiro escocês John Logie Baird conseguiu transmitir uma imagem identificável da cabeça de um boneco de ventríloquo, chamado Bill diretamente do sótão de sua casa. Era a primeira vez que se conseguia transmitir uma imagem em tempo real.

Desde sua criação mais rudimentar até o primeiro modelo a ser produzido em escala industrial, foram anos de pesquisas, experimentos e aprimoramentos. apesar de o interesse em se criar o aparelho televisor já possa ser encontrado desde o século XIX. Nesta época, grandes conceitos desenvolvidos na matemática, na física e na química foram os precursores fundamentais da tecnologia utilizada na criação dos modernos aparelhos de TV. Hoje ao vermos uma TV de LED ou uma Smart TV nem imaginamos o caminho longo e sinuoso que um dos maiores ícones do mundo moderno teve que percorrer.

Mas será que com o advento da banda larga e a audiência cada vez maior do video on demand (VOD) a TV vai ser obrigada a sair de sua zona de conforto e começar a disputar um espaço onde ela tem reinado suprema? Tudo indica que sim.

Menos verba para a TV…

Apesar de alguns ainda duvidarem que o império da TV possa estar sendo ameaçado, a realidade é que a TV brasileira, antes o destino tradicional das maiores verbas de publicidade, hoje sente o forte impacto em seus negócios a cada ano que passa.

Esse impacto se deve a muitos fatores, desde a enorme quantidade de plataformas VoD no mercado até o número crescentes de outras novas mídias que disputam espaço com a TV. O retrato mais sintomático disso é que hoje o consumidor é chamado de vários nomes: ouvinte, espectador, usuário, leitor e até player.

Recentemente a Redalcy disponibilizou um relatório mostrando uma queda crescente tanto na audiência como na receita publicitária das emissoras de TV, que hoje observam empresas digitais faturando alto com conteúdos online e Branded Content. E não são só empresas como a Netflix que desenham este cenário, o Youtube, com seus canais criados por usuários que carregam milhões de fãs, também têm sido oponentes bastante expressivos.

De um modo ou de outro, o modelo de TV – aberta ou por assinatura – passa por uma clara fase de questionamento e certamente precisará quebrar alguns paradigmas para descer de seu trono e com isso se reinventar.

O que mudou com a internet

Entre as diversas transformações que o advento da banda larga proporcionou ao mundo moderno, talvez a mais significativa tenha sido a forma como o consumidor se passou a se comportar em relação a mídia, principalmente diante da publicidade.

O que antes era um modelo de publicidade baseada na interrupção (no meio da novela, do programa ou do seu filme preferido) para chamar a atenção do consumidor, foi se transformando em um novo modelo chamado marketing de permissão, onde o consumidor passou a autorizar ou permitir a veiculação de conteúdos publicitários que fossem do seu interesse. Não que não exista mais a publicidade interruptiva, mas pouco a pouco, ela perde sua força de persuasão diante de uma nova forma de abordagem muito mais assertiva.

Um bom exemplo disso são as promoções que recebemos por e-mail somente se permitirmos seu envio. A própria publicidade nos sites que visitamos  pode ser desativada a qualquer momento. Seth Godin, um dos mais influentes profissionais de marketing do mundo, foi quem batizou este novo marketing já em 1999, e seu livro de mesmo nome – “Marketing de Permissão” –  explica muito bem esta nova forma de fazer marketing.

Com toda esta reviravolta entre quem tinha e quem não tinha o poder da informação, o resultado é que hoje este poder passou para as mãos do consumidor, que escolhe o que quer, onde quer e de que forma quer consumir.

Neste novo contexto o Marketing Digital é a grande ferramenta para entender como impactar este novo consumidor e se relacionar com ele sem intermediários. Saber, por exemplo, como utilizar as Redes Sociais para atrair e engajar o consumidor é uma de suas armas mais poderosas.

Se por este motivo o consumidor está migrando cada vez mais para serviços de VoD como Netflix, Now, NetMovies e Youtube, não é surpresa que a receita com publicidade da TV aberta – mesmo que ainda alta –  esteja caindo, pois é fruto dessa própria queda da audiência crescente.

Os Números do VoD

Apenas como referência, a Ancine apontou em 2016 que 38% da população dos EUA já possui acesso a algum serviço de VoD. Lá já são mais de 200 players de VoD movimentando cerca de U$ 521 milhões de dólares ao ano em receita publicitária entre 2009 e 2015.

No Brasil somos 30 players na casa de U$ 504 milhões de dólares, que são remetidos em boa parte para suas matrizes no exterior. O Youtube afirma categoricamente que a audiência do vídeo online vai superar a da TV até 2020, enquanto planeja lançar seu serviço de streaming pago em 2017: o Unplugged, já de olho em ser o canal da sua sala.

O consumidor na mira

Com esses dados já se tem uma boa noção de como ainda há espaço a ser preenchido por serviços de VoD e cada vez mais, serviços totalmente voltados para um consumidor ativo, que escolhe o que mais o agrada. Muitos canais de TV por Assinatura – a principal personagem a ser afetada com estas mudanças – já correm em direção a plataformas de VoD a fim de lançar seus próprios conteúdos em versão on demand.

Com toda essa mudança, muitos elementos vão trocar de posição, se reinventar ou mesmo desaparecer. A TV por Assinatura principalmente, e estes dias já estão bem próximos.