Falar em mudanças numa época em que a internet redefine padrões de comportamento a cada instante e cria novos modelos de relações é chover no molhado. Mas é graças a isso que o trabalho remoto e a explosão dos escritórios inteligentes estão ditando novos rumos para um modelo de produtividade que até então acreditávamos ser a única forma de interação entre gestor e colaborador e entre empresa e cliente. Junto a isso o crowdfunding e o crowdsourcing ganharam força e se tornaram a palavra de ordem para muitas empresas e organizações, assim como a necessidade e a exigência cada vez maior de transparência e alinhamento com valores considerados importantes para a sociedade.

E sabemos que essas e outras tantas mudanças só foram possíveis graças a evolução do acesso móvel e da banda larga, o que impactou diretamente no dia a dia de cada um de nós, independente da profissão, escolaridade ou classe social. Nenhuma novidade até aqui.

Entretanto este mar de novas perspectivas e posicionamentos, gerados pela evolução da internet, trouxe um fenômeno que merece nossa cuidadosa atenção: o surgimento de um novo tipo de empreendedor, o chamado Empreendedor Digital. Na verdade esta onda vem ganhando força desde 2009 e se tornando uma febre a cada ano que passa, produzindo inúmeros “gurus”, “especialistas” e “consultores” em assuntos cada vez mais variados.

É interessante observar que os protagonistas desta nova onda não são empresas ou agências especializadas no marketing digital como conhecemos, acostumadas a falar em KPI, Dashboards, Analytics e Conversion Rates; mas sim pessoas físicas, profissionais liberais e empreendedores de última hora em busca de seus 15 minutos de fama. Essa turma descobriu um novo modo de se tornar relevante oferecendo fórmulas que prometem desde aumentar as vendas das empresas até perder peso sem fazer esforço. Basta um olhar atento na internet para topar com milhares de ofertas deste tipo, seguindo uma estratégia mais ou menos padronizada e sempre oferecendo iscas digitais – algumas bem sedutoras – para quem se interessar.

Nos EUA esta onda passou a ser chamada de “Internet Marketing“, e quando chegou ao Brasil atraiu basicamente dois tipos de interessados: De um lado pequenos empresários desiludidos com agências, e do outro curiosos, leigos e ingênuos dispostos a aprender por si próprios, com os ditos “especialistas”, metodologias milagrosas do tipo “Como turbinar seu negócio e vender mais a seus clientes em 5 passos“, muitas vezes buscando soluções simples para problemas complexos.

No que se refere ao marketing, a principal consequência negativa que este fenômeno trouxe foi vender a ilusão de que marketing agora é um commodity, que um planejamento digital para aumentar as vendas, por exemplo, não passa necessariamente por uma agência; pode ser feito por qualquer um, sem grandes investimentos e sem experiência na área. Para isso bastaria baixar alguns ebooks, assistir a webinars e assinar blogs, e claro, comprar “métodos infalíveis” criados por quem supostamente seria especialista no assunto. Ou então começar a usar uma ou outra plataforma que promete resolver o problema pagando alguns reais por mês. O produto final, normalmente, é frustração e dinheiro jogado fora, pois a estratégia continua sendo o ingrediente principal do sucesso e sem ela é impossível chegar a resultados palpáveis.

Um dos principais métodos utilizados por estes empreendedores digitais está muito bem fundamentado no livro As Armas da Persuasãode Robert Cialdini, um desconhecido até bem pouco tempo no universo das agências digitais. Cialdini é genial e seu livro é leitura obrigatória para quem trabalha com vendas e marketing. O problema é que seus princípios foram utilizados aqui até a exaustão e por todo tipo de “especialistas”, ultrapassando os limites do que é factível e prometendo o inalcançável.

Se é fato que os empreendedores digitais chegaram muitas vezes com promessas impossíveis, se vendendo como uma solução revolucionária para aumentar as vendas e o faturamento de muitas empresas, também é fato que eles aprenderam a usar perfeitamente as melhores técnicas de persuasão na jornada de compras do consumidor aliadas aos recursos da internet para se venderem.

Na verdade essa turma começou a atuar em uma área que o próprio marketing digital desconhecia ou não dominava: a busca pela conversão. Isso trouxe resultados muito mais rápidos do que as agências estavam acostumadas, o que, logicamente, gerou uma guerra declarada entre o pessoal do marketing digital e a turma do internet marketing.

Outro dado importante: apesar de não serem profissionais de marketing altamente gabaritados e generalistas, habituados a trabalhar com grandes marcas e enormes cifras, e de não trazerem nenhuma grande bagagem e visão de negócio – mesmo porque normalmente são muito jovens -, essa turma chega como especialista em ferramentas comprovadamente eficazes para conversão e resultados, como Google Adwords, SEO (Otimização de conteúdo), Mídias Sociais, etc., que até bem pouco tempo eram recursos totalmente ignorados pelas agências digitais e que hoje são essenciais em uma estratégia.

Mas diante desta nova realidade o que podemos aprender? A primeira coisa é não torcer o nariz para o novo, essa é a melhor forma de não estagnar e não se tornar obsoleto, ainda que este novo muitas vezes gere distorções.

A segunda coisa é absorver a parte positiva e aplicá-la, pois é exatamente isso que muitas agências já estão inteligentemente fazendo, ou seja, incluindo os princípios de atração, conversão e relacionamento em seus planejamentos estratégicos.


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Quando se une o conhecimento estratégico do marketing, a expertise do branding, a visão ampla sobre o negócio do cliente – aprendida com a anos de experiência lidando com marcas, empresas e produtos -, características presentes nas agências, com táticas persuasivas de captura e geração de demanda, princípios testados e comprovados pelos empreendedores digitais, o resultado só pode ser muito mais satisfatório para clientes e agências.

Na dúvida, escolha o caminho do meio. Sempre.